domingo, 7 de agosto de 2011

As férias e o regresso ao trabalho

Anjos – Renascer
Depois da primeira aventura na Guiné, seguida de um desejado regresso a terras lusas para umas férias em grande, é altura de atirar-me ao trabalho uma vez mais. E é já da minha nova “casa” em Zogota que vos escrevo estas linhas.
Levada do Risco às 25 Fontes
As férias foram uma espécie de retiro espiritual com a esposa. Os encontros com amigos foram poucos e acabei por vir embora sem ver muitos dos VIPs que esperava. Andámos por todo o lado. Ele foram caminhadas, passeios de bicicleta, mais de 1000 Km de carro, outros tantos de avião e umas quantas centenas de fotografias para mais tarde recordar.
Pôr-do-Sol na Praia GrandeEscolhi bem a minha gaja, ou não escolhi?  A espalhar a semente
De Sintra à Madeira, de Lisboa a Mira De Aire, de Tavira a Sevilha, foi uma correria dos diabos. Pode dizer-se que tirei a barriga de misérias. Há já algum tempo que não tinha daquele tipo de férias em que se chega ao final mais cansado do que quando se começou.
Uma pausa para repôr energias na cascata das 25 FontesPraça de Espanha, Sevilla Grutas de Mira de Aire. Majestoso!
Do calor seco do Verão português, para a época das chuvas da Guiné, foram apenas umas horinhas no avião. Deixei a câmara em casa e carreguei apenas a minha fiel Olympus da Guerra. Chega para mostrar o que por aqui se faz sem temer que algum corrupto guarda alfandegário guineense me fique com a minha fofinha Canon no aeroporto.
Encontro imediato de terceiro grau com a Miss Guiné 2011.  A minha nova boleiaMadeira, Ponta do Sol - Duas faces da mesma moeda Madeira, Ponta do Sol - Duas faces da mesma moeda
Vou mantendo o contacto pelos meios habituais, mas aviso que o meu telefone não tem rede aqui. Se quiserem saber de mim, só pela net mesmo. Despeço-me com a foto abaixo.
Acham que cabe mais qualquer coisinha?
Este já deve ter tido um furo no passado e aprendeu a deixar o suplente num lugar acessível

domingo, 12 de junho de 2011

Entregue à bicharada

The Tokens – The Lion Sleeps Tonight

Não conseguem resistir à luz

Há umas semana atrás prometi um post de deixar os pelinhos em pé com uma compilação da bicharada que por aqui tennho encontrado. Demorei, para não variar, mas agora aqui está TODA A VERDADE! Por ter muitas fotos e pouco para escrever, exponho-as lado a lado e basta clicarem para verem com maior detalhe. Para ler a legenda basta pousar o cursor sobre a foto.

Ninho de térmitas no chão Engarrafamento entre dois gafanhotos e uma barata

Bichos é o que não falta aqui no mato, e para mim já se tornou normal ver insectos do tamanho da minha mão. Continuo a fugir deles quando se atiram na minha direcção. e é habitual correr à frente deles como uma miúda assustada. No entanto, de câmara na mão, ganho outra coragem.

Depois de acasalar, a fêmea do louva-a-deus come o macho. Finalmente consegui apanhá-la em flagrante! E isto é o que sobra do coitado

Nem tudo são insectos: há cobras e lagartos com fartura também. Ainda só vi uma serpente até agora, o que é bom sinal. É que aqui as cobras matam. Dizem que nesta zona há das cobras mais letais de todo o continente africano. Metem respeito!

Andei semanas a tentar fotografar um destes lagartos. Hoje tive sorte! É quase certo que ao final da tarde, antes do sol se pôr, vou encontrar um lagarto em cima desta pedra. Está posicionada no ponto perfeito para absorverem os últimos raios de sol antes deste se esconder por trás da montanha

No outro dia ia no jipe a subir a montanha quando vi o que parecia ser um furão a atravessar a estrada. Foi tão rápido que não deu tempo para puxar da câmara. Mas agora vou ficar de olho neles!

Uma fêmea de mosquito Anopheles, o género cujas espécies são portadoras de malária Duas Anopheles vivinhas, adormecidas com clorofórmio, observadas através duma lupa. Em nome da ciência!

As borboletas aqui também são algo de extraordinário. Borboletas ou traças, são sempre estranhas, cabeludas e interessantes de fotografar.

Uma grande e gorda... como eu! Demorei a perceber o que era isto.... mas é uma borboleta

O que vejo mais são escaravelhos grandes e gordos, caídos no chão, já mortos, de barriga para o ar. Levam-me sempre a pensar que seria tão mais fácil se as pessoas fizessem o mesmo. Para nós, enfermeiredo e pessoal da saúde no geral, era muito mais simples. Víamos alguém de barriga e pernas para o ar e nem valia a pena corrermos: estava feito o diagnóstico!

Uma espécie de vespa... esta é que é lixada. As nossas em Portugal são bichinhos de enfeitar! P5200364

Vi um deles a voar uma noite. Voo muito desajeitado e precário, seguido de queda vertiginosa com estrondo. Fez um “craque” ao estilo de côco a cair no chão… ou o som de castanha assada de meio quilo a embater no solo. Já não se mexeu mais, paz à sua alma. Nesse momento percebi porque há tantos destes mortos pelo chão!

Uma carocha grande e gorda! Louva-a-Deus todo esticadinhoO detalhe das patas dianteiras está genial.

Pode parecer estranho, mas aranhas é que quase não vejo. Já ouvi dizer que no meio do mato, e principalmente a sul, para lá da fronteira com a Libéria, há aranhas tipo sapateiras. Mas aqui, pelo menos nas zonas mais limpas onde eu ando, na pas d’aragné. O espécime mais interessante que vi foi este aqui por baixo.

Uma das poucas aranhas que por aqui vi Parecem folhas de árvores. Reparem nos detalhes... é igual!

Deixo-vos com um videozinho que fiz. As fotos até são giras, mas é em movimento que se percebe melhor a dimensão dos bicharocos.

Até daqui a uma semana!

quarta-feira, 25 de maio de 2011

E assim se vive na Guiné

Van Halen – Top Of The World

Vista leste do acampamento

Há já muito tempo que prometia mas não cumpria. Hoje decidi deitar mãos à obra e escolher umas fotos interessantes para ilustrar o relato da minha mais recente aventura.

Vista de um dos heliportos

É oficial: o Bacalhau das Caraíbas já não o é. Quer dizer, fui e sempre serei “das Caraíbas”, porque aquilo que vivi (e não falo apenas da húngara que importei de lá) me marcou para a vida. Por isso decidi não mudar o nome do blog mas dar-lhe apenas um toque de novidade. Se eu fosse um gajo comospolita, sofisticado e que usasse palavras “ambricanas” diria que peguei no título do blog e lhe dei um "twist”.

Faça chuva ou faça sol, manga comprida, bota da tropa e calças com cordéis no tornozole serão a minha indumentária

Bem-vindos ao “Bacalhau das Caraíbas Na Guiné”!!!  

Para trás ficam as fotos em calções de banho nas quentes águas das Caraíbas. Longe estão as paradisíacas praias de Grand Cayman, Grand Turk e Half Moon Cay. Na memória ficam as noites loucas rodeado de mulheres semi-nuas nas ruas de Key West. Bahamas… nem sei se voltarei a vê-las. A minha nova casa é a Guiné. E Odivelas. E Budapeste.

A minha nova casa durante seis semanas

Vendo bem, vou andar por demasiados sítios para poder dizer “aqui é a minha casa”. A vida continua a ser uma aventura e não prevejo mudanças de ritmo nos tempos que se avizinham. Talvez daqui a dois anos decida arrumar as botas (da tropa e com biqueira de aço, por causa das mambas que por aqui andam). E com as botas arrumadas e um emprego normal talvez encomende um Pascoalinho. Até tenho amigas em Paris que metem uma cunha lá na secção (sim, com C antes do Ç) de entregas por cegonhas.

O meu heliporto 

Até lá, as paisagens Caribenhas darão lugar ao verde luxuriante e às fantásticas tempestades africanas. Aqui não falta calor. Não falta humidade. Não falta biodiversidade. E não faltam doenças tropicais. Posso confessar que já apanhei a minha primeira doença tropical, e chama-se Catinga. Nos primeiros dias ainda me senti mal. Mas agora já estou imune. Já não me preocupo em suar até ensopar a roupa e cheirar mal. Da mesma forma que já não me preocupo quando sujo as botas… ou as mãos… ou as calças. E se alguém cheirar mal à minha volta, desde que não arda muito nos olhos e me não faça chorar, é tolerável. E, acima de tudo, é natural!

Aqui é poeirento, lamacento, peçonhento, calorento e muito mais adjectivos terminados em –ento que não me m’alembro neste momento. É duro, é selvagem e é tudo o que uma criança presa no corpo de um homem poderia querer. É como voltar a ser escoteiro ao fim de vinte e dois anos. Antes fazia cabanas e tendas com bancos, paus e lençóis. Virava o sofá da sala de pernas para o ar e cobria-o com um cobertor, largava o gato lá pelo meio e fingia que era a selva, com um felino selvagem que me perseguia numa caverna (que era o sofá). Agora durmo debaixo de uma rede mosquiteira que parece uma dessas tendas improvisadas. Não tenho felinos selvagens a perseguir-me, mas tenho insectos quase do mesmo tamanho que são muito mais interessantes para fotografar.

Os nativos chamam-lhe aeroportoÉ como uma viagem de montanh-russa de duas horas

A viagem até cá é atribulada, tentando passar por guardas alfandegários que nos pedem subornos para não revistarem as nossas malas, onde se manda uma mija em grupo atrás do edifício do aeroporto antes de partir, não vá a vontade apertar durante o vôo numa avioneta muito pequenina. Descola-se de vidro aberto e com o braço de fora, tal como no trânsito em hora de ponta no IC19. Sente-se cada ressalto, as ventoinhas estão do lado de fora do avião, e aterra-se numa pista de terra. Mas o que é isso senão um passeio grátis de duas horas numa montanha-russa? Adorei a viagem e, mesmo com uma directa em cima, adorei o que vi, tirei fotografias até à exaustão e nada conseguiria arrancar-me o sorriso do rosto.

Mesmo com o céu nublado é uma visão sem igual

Na minha segunda entrevista de emprego disseram-me, para me avisar/chocar/mentalizar/testar que isto não era o mesmo que trabalhar num navio de cruzeiros nas Caraíbas, que a viagem entre o avião e o meu destino era feita pelo mato, num jipe 4x4, em estradas de terra. Acrescentaram que é uma viagem dura, desconfortável e muito longa. E digam-me lá qual é o gajo que não gosta da ideia de se enfiar num jipe durante duas horas a desbravar terreno por uma montanha acima, apenas para iniciar a descida assim que se chega lá acima! Uma viagem de três horas na A1 mata-me de tédio, mesmo a conduzir um Audi a 230 km/h. Agora duas horas no mato, montanha acima e montanha abaixo… há quem pague para isso!

Corrida de obstáculos

Não vou falar do meu trabalho. Não vou falar dos meus doentes. Nem vou falar do que se faz aqui. Nunca foi esse o propósito do blog. E também uma pequena cláusula do meu contrato que menciona redes sociais e blogs.    :)    Mas não é nada de novo, falar apenas de mim e das aventuras do dia-a-dia. Este espaço continuará a ser apenas um local onde partilho o que me vai na alma com amigos e família. O que sinto, o que penso e o que me deixa com o grelho aos saltos.      

Foi uma noite inesquecível!

É impossível andar aqui sem levar pelo menos uma máquina fotográfica no bolso. Já que não ando sempre com a Canon ao pescoço (pelo menos até ao final desta semana), a pequenita Olympus vai sempre no bolso. As oportunidade fotográficas são infindáveis. Quem tem visto as fotos no Facebook já sabe que de paisagens a encontros imediatos com monstros de seis (e muitas mais) patas, não faltam sujeitos para fotografar. Estou propositadamente a deixar fora desta posta (de Bacalhau à Guiné) todas as fotos de insectos que recolhi nestas três semanas. Está para sair em breve um post unicamente dedicado à bicharada! Preparem-se para alimentar os vossos pesadelos!
AHAHAHAHAHAHAHAHAHAH! (riso maléfico)

Este cegou-me por um bocadinho... e deixou marca na cueca

As tempestades têm sido o que mais me alimenta a adrenalina. Esta noite, ao sair da cantina, vinha na conversa com um dos outros portugueses que aqui trabalham, e “FLASH” mesmo à nossa frente. E nem dez segundos depois “FLASH FLASH FLASH”. E nada de chuva, apenas o brutal calor húmido semelhante ao do “estágio de preparação” que fiz nas Caraíbas. Terminei a conversa abruptamente com um rápido “tenho que ir buscar a câmara”. E assim andei duas horas e meia armado em caçador de tempestades.

Parece de dia... mas não é!

Inicialmente a tempestade estava ao longe, por trás da montanha. Passou ao lado, sempre brutal e a fazer tremer o solo a cada trovão e raio que me cegava durante momentos. Nunca vi relâmpagos e raios tão brilhantes ao ponto de me cegarem e numa tão rápida sucessão. É BRUTAL! Não há como descrever… vejam as fotos e digam se estou a exagerar. Tirei hoje  algumas das melhores fotos da minha vida. A foto aqui acima é uma delas. Sem tempo para preparação, câmara de lado, quase a cair, apoiada no capot de um carro. Parece de dia… mas não é. Faz-me lembrar a cena dos relâmpagos da Guerra dos Mundos do Spielberg. A quantidade de electricidade no ar deixa qualquer um (até eu!) de cabelos em pé. Sente-se no ar, sente-se no corpo, sente-se quando a montanha treme. O estrondo é simplesmente fantástico, grave mas estridente e ecoa cá dentro no peito. Faz-nos sentir minúsculos!

Esta cena foi brutal. Aconteceram dois ou três destes e decidi apontar a câmara para o céu... e olha, correu bem

IMG_8860A certa altura a tempestade começou a comportar-se de outra forma. Os raios já não estavam a cair à minha frente. Agora percorriam o céu sobre mim. E nesta foto consegui captar um desses momentos em que a electricidade desenhou uma teia que cobriu todo o céu. Assombroso e inesquecível! Foi um orgasmo fotográfico!

Esta imagem, apesar de tremida e com luz a mais, faz-me lembrar o filme Jurassic Park. Acho super poderosa. O Homem e a sua criação parecem insignificantes perante esta demonstração de poder

Assim é África: fantástica, visceral, imensa, poderosa e sem meio-termo. É algo que se entranha, lá está, como a catinga.   :)   

Digam adeus e até à próxima posta!´