domingo, 28 de setembro de 2008

Só uma achega

Finalmente! Consegui improvisar e já corrigi o post “De Miami a Houston a Montego Bay”. Ao fim de muitas tentativas e invenções consegui meter a foto panorâmica no final do post! Até à próxima actualização com as fotos e vídeo do mergulho em Grand Cayman!

Sobremesa no jantar de despedida da minha colega!

sábado, 27 de setembro de 2008

Acertar o passo com servidores impacientes

Tem sido complicado manter o blog actualizado. Enquanto estive em Miami fui preguiçoso e depois, já a bordo e sem o acesso privilegiado à internet, ficou mais difícil arrumar a casa. Agora estou a tentar superar uma limitação do programa que uso e da sua interacção com o site do picasa.google.com onde são alojadas as fotos do blog. Creio que encontrei a solução e que daqui para a frente isto vai correr melhor.

Neste momento estou com as mesmas dificuldades que tinha no navio anterior: internet cara e lenta demais para fazer posts com kilos de fotografias e vídeos. Parece-me que os servidores do blog e das fotos são impacientes. Se a ligação é lenta o servidor fica entediado e corta a ligação inesperadamente. Pelo menos é isso que o Windows Live Writer me diz: “connection with server was lost unexpectedly”. Fico limitado a escrever os posts offline e a publicá-los apenas quando estiver em terra. A menos que sejam posts “bonitos” como este, apenas com texto ou duas ou três fotos apenas. A periodicidade dos posts no Holiday e agora no Conquest também pode mudar. São cruzeiros com itinerários muito diferentes e isso vai condicionar as actualizações. Eu explico porquê.

No Holiday os cruzeiros eram de quatro e cinco dias e repetiam-se ao fim de duas semanas. Nunca tínhamos mais de um dia no mar. Aqui os cruzeiros são de sete dias, de Domingo a Domingo, e começamos com dois dias no mar. Nunca muda, a não ser que tenhamos que fugir dum furacão! Esta semana, por exemplo, o meu horário não está a ajudar muito no que diz respeito ao blog. Ontem estive livre até às quatro da tarde em Cozumel e consegui actualizar o blog, apesar das dificuldades técnicas. No Domingo estou em Houston mas trabalho e não poderei ir à rua para ter acesso à internet. Depois são dois dias no mar, sendo a minha folga num e o dia que trabalho apenas das quatro às oito da tarde no outro. Na quarta-feira estarei livre das onze às quatro em Montego Bay, na Jamaica. Possivelmente poderei actualizar isto mas não conheço Montego e nem sei se há algum bar onde a tripulação vá “roubar” internet. No dia seguinte, na boniiiiiita Grand Cayman, teria acesso à internet se não estivesse a trabalhar e sem poder ir à rua. Estarei de folga em Cozumel, onde ficarei a abobrar até às cinco e meia da tarde. Certamente farei as milhentas actualizações que pretendo. É certo, porém, que será possível pelo menos uma actualização semanal. É bom que as três pessoas que visitam isto saibam dar valor à minha dedicação e empenho!

Como disse noutras ocasiões, se estão a ler isto é porque já consegui publicá-lo!

Daqui a quinze minutos vou ter um exercício “brightstar”, que é o nome de código para uma emergência médica. A seguir tenho a reunião semanal do departamento, às duas tenho o teste de avaliação dos meus conhecimentos dos procedimentos de segurança a bordo do Conquest, seguido de “safety tour” pelo navio onde vão mostrar-me os locais inportantes em termos de segurança. E às quatro vou trabalhar outras vez. Como já trabalhei das oito até quase ao meio-dia pode dizer-se que é um dia em cheio! Amanhã trabalho das oito às quatro da tarde e depois fico de chamada durante a noite. Ao menos na segunda-feira estou de folga e às oito da noite dá o segundo episódio do Heroes na NBC!

Este post é apenas para encher, para vos deixar a par do que pretendo e do que posso fazer com o blog nos próximos tempos. E também para saberem que isto não é só festa. Quase toda a gente insinua que não trabalho e só me divirto. Já pensei em fazer posts exclusivamente sobre o meu trabalho aqui. Mas para além dos processos jurídicos que iriam caír-me em cima e de ficar sem o meu emprego, provavelmente o blog perdia os seus dois ou três leitores. Para terem uma idéia, ontem ventilámos e evacuámos um e outro foi desembarcado com uma fibrilhação auricular.

Entre as sete e as oito da noite tive uma doente com uma hiperglicémia “HI”, um tripulante com uma cólica renal e outra tripulante que desmaiou na lavandaria. Isto em menos de uma hora. Hoje de manhã já tivemos mais duas cólicas renais e mais de quinze outros tripulantes com porcarias, para além dos passageiros que também vimos na enfermaria. Aqui trabalha-se. O giro é que nos intervalos não estou no trânsito da 2ª Circular ou da IC19… estou a nadar em Grand Cayman, a beber uma margarita em Cozumel ou no jacuzzi no navio. Ou a ver um comediante… ou música ao vivo… ou de papo para o ar ao sol… é duro!

E já agora: VIVA O BENFICA!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

De Miami a Houston a Montego Bay

Baixa de Miami

Ufa! Que viagem! A última vez que escrevi já foi há uns dias valentes. Hoje finalmente tive tempo e paciência para me sentar a escrever as tropelias da última semana. No final do último contrato incluí como fundo musical de cada post algumas das músicas que andava a ouvir nessa semana. Decidi mudar. Deixo-vos uma das músicas que estou a ouvir enquanto escrevo o post. Não faço introduções, deixo apenas o som e quem quiser clica play para ouvir.

Há uma semana atrás quando escrevi pela última vez estava em Miami e ia dar uma volta pela baixa. Assim o fiz. Apanhei um táxi, fui à baixa, passeei por lá e… foi uma desilusão. Aquilo era uma espécie de Martim Moniz mas em vez de indianos eram hispânicos a tentar “endrominar-nos” nas suas lojas de produtos electrónicos de qualidade duvidosa. Andei por lá às voltas, cada um a tentar vender-me os seus negócios da China. Andei até chegar à marina de Downtown Miami. Haviam muitos bares e restaurantes fixes à beira-mar, mas encontrei o meu lugar de eleição: o Hard Rock Café! Entrei e bebi um licor marado com Red Bull enquanto apreciei o som e a decoração.

Hard Rock Café - MiamiA guitarra do Rudy Sarzo dos Whitesnake. Esta é para ti, mãe!

O culto do Rock!!!

Sendo que o hotel era perto do aeroporto e que este era LOOOONGE do centro de Miami os transportes eram escassos e quase impossíveis. Para alguém em contenção de custos, o táxi deixou de ser opção voltar à aborrecida baixa de Miami. E duas horas de autocarro também não era algo que me apetecesse. Dizem que aquilo é muito animado à noite… mas de dia foi uma desilusão e não valia o esforço. Talvez goste mais quando lá estiver todas as semanas com o Destiny. Para já, e até prova em contrário, fica na minha lista de lugares chatos! Vegetei no hotel nos dias seguintes, a aproveitar o luxo da internet à borla e dos melhores canais de televisão de sempre: Comedy Central e Sci-Fi.

A tasca onde almocei na baixa de Miami... chamava-se Restaurante Brasileiro, apesar de todos os funcionários serem hispânicos e não haver um único gajo do Brasil!

Tirei a barriga de misérias de Jon Stewart, Colbert Report, Southpark, standup comedy e de Stargate! De manhã almoçava num bar/restaurante muito fixe pertinho do hotel. Contei mais de QUARENTA ecrãns LCD espalhados pelo restaurante. Para onde quer que olhassemos tínhamos pelo menos uns cinco ecrãns com coisas para ver. Era o sítio ideal para ir beber uns copos e comer com os amigos e ver um jogo de futebol… ou basebol… ou basket… ou golfe… vejam lá que enquanto almocei na quinta-feira estavam uns macacos de verde e branco a jogar com o Barcelona! Só quando vi escrito “TMN” na camisola é que percebi que eram os lagartões da 2ª Circular. Um gajo já nem pode almoçar em paz do outro lado do mundo que não se livra de levar com aquela cromalhada de risco ao meio! À noite jantei sempre no hotel, já que o bar estava a abarrotar e tinha de esperar uma meia-hora para conseguir sentar-me ao balcão.

Fiquei em Miami de quarta-feira a domingo. Tive o cuidado de virar-me frequência na cama para evitar úlceras de pressão, já que passava o dia inteiro na ronha sem mexer uma palha: deitado a ver televisão e na internet ou então a ver televisão deitado e na internet. Só saí para comer! Depois destas revigorantes férias remuneradas voei para Houston.

Houston, we have a problem! - Aeroporto de Houston

O aeroporto George Bush em Houston fica a mais de uma hora de carro do novo terminal de cruzeiros. Galveston, o porto-base do Conquest, foi completamente destruído pelo furacão Ike. A ilha quase desapareceu e foi necessário mudar tudo… assim sendo o terminal de cruzeiros de Houston, que só deveria estar pronto daqui a um ano, recebeu o gigante Conquest. No caminho para lá vi muita da destruição deixada pelo Ike. É assustador ver prédios em que parte da fachada desapareceu. Os ventos eram tão fortes que destruíram tudo à sua passagem. Conseguem imaginar os estragos que o “telheiro” duma estação de serviço faz a voar quase a 180mk/h e a varrer tudo pelo caminho? Tenho pena desta gente. Talvez agora comecem a pensar em aderir ao Protocolo de Kyoto para reduzir as emissões de dióxido de carbono, o aquecimento global e as alterações climatéricas. Talvez agora percebam que o seu “carrinho” com motor V8 de 4 litros de cilindrada e 400 cavalos de potência seja um atentado. Quando disse ao taxista que conduzo um carro 1.2 com 80cv ele perguntou-me se era um carro ou uma bicicleta! É esta a mentalidade…

Conquest ao longe. Foto tirada ainda no táxi em andamento. Chegada ao terminal de cruzeiros de Houston.

Quando vi o navio ao longe, ainda no táxi, o choque foi três vezes maior do que aquele que tive em Janeiro quando vi o pequerrucho Holiday pela primeira vez. O Conquest é GIGANTE e LINDO DE MORRER! Tive uma certa dificuldade em fechar a boca, tal o meu espanto quando fiquei frente-a-frente com o bicho.

 A minha primeira foto com o Conquest... o mestre do auto-retrato volta a atacar! Reparem no pormenor da árvore caída no canto inferior esquerdo da imagem.Vejam bem o tamanhinho do carro lá ao lado!

Chegado bordo passei pelos procedimentos do costume: inspecção da bagagem, entrega do passaporte, receber a chave do quarto, esperar que alguém da enfermaria venha buscar-me… é uma espécie de ritual. Vou saltar esta parte porque estava exausto, com fome, rabugento, deprimido, irritado, confuso e a precisar de muito mimo. A memória dessa manhã está demasiado distorcida e retorcida para ser aqui mencionada… não vale a pena falar desse momento!

O pessoal da enfermaria é fixe. Dois médicos e quatro enfermeiros. Eu sou um, as outras três são todas sul-africanas, bem como um dos médicos. O outro é grego e é um bacano do caraças. A enfermaria é enorme! Montes de salas, montes de equipamento, processador de raios X digital, três desfibrilhadores Lifepak 12, camas e salas com fartura e mil e uma coisas para explorar! Adeus Holiday, olá Conquest! Isto é que é!

Na recepção vespertina onde nos mostram os vídeos sobre segurança a bordo e nos apresentam as características básicas do navio a formadora viu o meu nome e disse-me, de sorriso rasgado “aaah, és o Bruno! Deixa-me dizer-te que as coisas que fizeste no teu último navio… não toleramos essas merdas aqui” e ficou com uma cara que até meteu medo. Fiquei um bocado atrapalhado e perguntei, qual miúdo assustado quando a professora lhe ralha “quais coisas?”. Aí ela começou a rir e disse “sabes o Matt… ele mandou-me fazer-te isso quando te encontrasse”. Era uma partida do Matt, o guitarrista com quem passei uns quantos meses no Holiday. Cão desgraçado fez-me ver a vida a andar para trás logo no primeiro dia! Ainda por cima nem fazia idéia de que coisas estava ela a falar, mas como não tenho a consciência tranquila até podia ter alguma verdade lá pelo meio…     ; )

Na minha segunda noite fui dar uma volta sozinho. Uniforme formal (aquele azul do Barco do Amor) e máquina fotográfica em punho. Mapa do navio no bolso e muita tentativa-erro para chegar onde queria. Isto é um mundo! ---Lara, tens de vir cá no dia 8! Aluga o carro em Ocho Rios, dá um passeio até Montego Bay (dizem-me aqui que são duas horas de viagem) e vem cá ver isto. Vou agora mesmo pedir autorização para tu e a Paula virem a bordo. Manda-me os vossos nomes completos e números de passaporte o mais rápido possível!---

A sala de espectáculos vista do último balcão

Nem queria acreditar na zona das piscinas e de jogos nos decks superiores. Sabia que havia uma piscina coberta… mas afinal de contas é uma piscina com tecto retráctil! Abrem e fecham o tecto, como se fosse um estádio. Fascinante! Tudo é grande e lindo, como podem ver pelas fotos. (não se esqueçam de deixar o cursor sobre as fotos para verem a legenda… não funciona para quem usa o Firefox; e podem clicar para verem a foto maior numa nova janela; especial destaque para a foto panorâmica no final do post!)

Zona da piscina central. Podem ver o tamanho do escorrega.

Vista do alto do escorrega

Hoje era suposto trabalhar das 7h30 às 16h mas tive quatro horas de formação a partir do meio-dia. Terminadas as palestras fui, de farda branca, todo cagão e de câmara na mão, tirar mais fotos do navio e da paisagem. Estavamos em Montego Bay, Jamaica. Infelizmente já era tarde para saír do navio. Para a semana logo me aventuro nas ruas da Jamaica!

Agora é hora de dormir uma sesta para ficar de chamada a partir das 20h. Hoje há jantar de gala para o departamento e amigos, é a despedida de uma das minhas colegas que vai embora no Domingo. Certamente só poderei fazer o upload deste post na sexta-feira em Cozumel, quando finalmente voltar ao bar do Chad, o meu favorito Wet Wendy’s! Mas se estão a ler isto é porque já consegui acesso decente à internet!


Bem-vindos a Montego Bay!

Problemas técnicos

Pois é. Estou com problemas técnicos que me impediram até agora de actualizar o blog. Tenho posts feitos, gravados no computador e não consegui ainda disponibilizá-los para as massas. Para a semana já deverei ter isso resolvido. Até lá, fiquem apenas a saber que estou muito bem, feliz por estar aqui, o navio é fantástico! Mas a felicidade também vem de longe… desse outro lado do Atlântico!          ; )

Quem quiser que enfie a carapuça!

Fui!

Mergulhar em grand Cayman... espectacular!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Eu não digo que a minha vida é uma aventura?

Estava eu aqui a escrever moradas e contactos importantes num papelinho antes de aventurar-me pelas ruas de Miami, quando soou um alarme de emergência no hotel. Por um altifalante ouvi um senhor avisar que foi dado um alarme de emergência e que, enquanto se confirmava a veracidade do alarme, deveria saír do quarto e aguardar por mais instruções no corredor. Acabou por ser um falso alarme, mas teve piada! Quando cheguei à rua, pelas escadas de incêndio, estava este bichinho à porta…

Miami fire Department

Depois então pedi um mapa de Miami na recepção, o número dos táxis e perguntei onde era o edifício da Carnival, que já sabia que era aqui perto. Foi só contornar o hotel e atravessar a 87th Avenue.

A fachada do complexo de edifícios da Carnival... isto é grande!

Conheci os chefões das operações médicas da Carnival, confraternizei com a malta que, até hoje, eram apenas nomes no ecrãn do computador. São todos tão simpáticos! a minha chefona é o máximo!!

Agora estou no hotel. Vim trocar de roupa, vestir uns calções e uns ténis e vou finalmente aventurar-me na baixa de Miami. Está um calor infernal na rua, mas achei que não daria bom aspecto aparecer de chinelo e calções para me apresentar aos “bosses” do meu departamento!

Conhecer os patrões

Cumprimentos e até mais logo!

Tirei umas fotos…

O meu quarto!

Se alguém estiver aqui por Miami, venha bater-me à porta! Tenho comida que roubei do buffet do pequeno-almoço e uma coca-cola light de lata de 25cl que trouxe do avião… não vos deixo com fome.

Tirei uma foto ao pequeno-almoço, para que vejam a razão pela qual os americanos são gordos…

Uma máquina de waffles (gofres em português)

… uma máquina de waffles!!! É só pegar num copinho, encher ali no reservatório à direita, meter na máquina à esquerda e esperar que faça “bip”. Depois é tirar aquilo tudo em frangalhos como se fosse um monte de migas… como fez a senhora que observei com muita atenção. Não arrisquei… e não foi apenas por medo de fazer a mesma figura e criar um monstro em vez dum bonito waffle. Foi mesmo porque não quero adoptar o tipo de alimentação que dá aos americanos aquela silhueta tipo “olhem para mim, sou tão gordo que pareço uma carrinha e até faço piiii-piiii-piiii quando ando para trás”.  Agora vou dar uma volta por Miami… não me preocupo porque sei que se me perder a minha cara aparece nos pacotes de leite na secção dos desaparecidos!

Bienvenido a Miami!

Miami

Já está! Já está desde ontem, mas só agora me dei ao trabalho de escrever aqui. Isto de receber e-mails a dizer “o teu vôo é daqui a doze horas” tem sempre a sua carga de stress e confusão nos preparativos! O que vale é que a mala estava feita desde sexta-feira, dia em que o vôo anterior foi cancelado já comigo no aeroporto de Lisboa.

Desta vez foram mais preparativos psicológicos e sociais. Correu tudo bem e a viagem foi uma seca terrível. É incrível como me dá sempre para sonhar no avião. E sonho sempre que acordei e olhei para as horas e que já estou a aterrar e dormi durante toda a viagem… mas é sempre mentira!!

O avião era da Iberia e vim por Madrid, por isso toda la gente hablava español. Quando aterrei, toda la gente hablava español también. Mas eram do meu vôo achei normal. Quando passei pela imigração até os agentes hablavan español. Também seria normal porque estava no terminal do aeroporto internacional de Miami que trata das companhias latinas. Mas quando saio para o mundo exterior… TODA LA GENTE HABLA ESPAÑOL! Isto foi roubado aos americanos! É uma invasão!!!

Apanhei uma grande seca no aeroporto. Os senhores dos serviços de imigração enfiaram-me numa sala, meteram umas luvas de latex e vieram procurar por drogas…

… é mentira! Fiquei só numa sala com umas cinquenta pessoas, todos à espera não sei de quê. Chamaram o meu nome ao fim de meia-hora, deram-me uns papéis carimbados e mandaram-me embora. Vá-se lá entender estas coisas!

À porta do terminal liguei para o hotel e vieram buscar-me. No caminho o motorista apanhou também uma senhora com as maiores mamas que já vi a cinquenta centímetros de mim. Via-se mesmo que tinham sido fabricadas, já que até tinham forma de tetina! Cabelo pintadíssimo de loiro e um visual no mínimo… diferente. Quando a carrinha largou todos os passageiros, que só por acaso hablavan español, o motorista (de Puerto Rico e que hablava español) disse-me “she’s a pornstar”. Tchiiii! Uma pornstar sentou-se ao meu lado no mini-autocarro do hotel! E deixei-a saír sem pedir um autógrafo e um contrato na sua próxima mega-produção cinematográfica! Perdi aqui uma grande oportunidade de carreira nesta indústria em alta! A vida tem destas infelicidades.

Não vou dar muitos (mais) pormenores chatos. Nem fotos tirei. Estou no hotel, jantei e fiquei na net a dar notícias a quem estava online. Estou agora cinco horas atrás de Portugal. Vou tomar o pequeno almoço e aventurar-me pelas ruas de Miami. Vou ligar ao escritório da Carnival e dar lá um saltinho, para conhecer as pessoas que mandam em mim e que são apenas nomes numa lista de e-mails.

Até logo!

Staybridge Suites em Miami, quarto 302.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O furacão

Segui atentamente as notícias do Furacão Ike (leia-se “aique”). Cheguei a fazer piadinhas e trocadilhos do tipo “aique me vou lixar”. Enviei e-mails aos meus “patrões” a perguntar se iria mesmo voar para Houston visto aterrar lá poucas horas antes do furacão, já de categoria dois, atingir Galveston, na costa do Texas. É em Galveston que “mora” o meu navio. Mas todos os planos se mantiveram até ao último minuto.

Foi já no aeroporto de Lisboa, a fazer o check-in, que me informaram que a British Airways teria cancelado todos os vôos para Houston pelo menos por cinco dias.

Regressei a casa – e que bom regresso que foi    ; )  - e reportei aos patrões de Miami. Fiquei retido por cá durante mais uma semana. Estou em casa, estou bem. Mas e os meus colegas do Conquest? Esses ficaram uma noite em Cozumel e acabaram sendo desviados para New Orleans onde continuam ainda hoje. Galveston, Houston e muitas outras zonas do Texas foram completamente devastadas pela fúria do Ike. Nunca pensei que pudesse ser tão violento… e pensar que eu poderia ter estado lá, em terra, à espera para embarcar no Conquest. O cenário é de catástrofe. Não apenas as casas e estradas destruídas, mas a falta de electricidade, água potável, comida, gasolina… sobreviver ao pós-tempestade é uma missão mais difícil do que sobreviver à tempestade em si. Sem electricidade não há frigoríficos. Sem frigoríficos não há comida. As reservas de água ou estão contaminadas por detritos da tempestade ou estão a esgotar-se. As estradas estão cortadas, passíveis de colapsarem depois das suas fundações terem sido varridas pelas águas.

É impossível que o meu navio regresse a Galveston nos próximos tempos. Vou embarcar esta semana, mas certamente o Conquest adoptará um outro porto para morar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Guia de sobrevivência para “amigdaléticos”

Atenção - tomar uma metoclopramida antes de olhar para esta foto

O que fazer quando se acorda com a garganta neste estado? Aprendam tudo aqui, numa curta lição de vida… uma lição sobre dor, sofrimento, sacrifício, delírio e perfeita estupidez! Em apenas vinte e três passos!

Histórias da vida, aqui neste seu blog.

1) Lavar bem a boca e não falar directamente para ninguém… isto não pode nunca dar bom hálito a alguém;

2) Ir chorar para os colegas do hospital para te darem uma injecção para tirar a dor e conseguires, finalmente, comer e beber qualquer coisinha… isto depois de estares mais de uma hora na sala de espera duma conservatória do registo predial, a tentar conter a raiva para não partir tudo ao pontapé, enquanto lutas contra a fraqueza e a febre;

3) “Levar no cú” do colega que se ri ainda com a agulha na mão e salvar uma velhinha desorientada de ficar sem um braço enquanto a sua maca era levada dum lado para o outro;

4) Pedir uma receita de antibiótico a uma médica que gostes muito e a quem acabas por deixar a impressão errada de que só lá foste dizer “olá” porque precisavas de ajuda… quando na verdade estavas mesmo contente por rever a querida doutora Maria Tinóni e que não foste só lá atrapalhá-la quando estava cheia de trabalho;

5) À tarde adormecer no sofá, acordar duas horas depois com o corpo a ferver e a tremer de frio de tal maneira que mijar de pé e conseguir acertar dentro da sanita foi o maior desafio das férias;

6) Conseguir estar em condições para fazer jantar e receber uma grande amiga que está desde Julho a tentar encontrar-se comigo e que não consegue por causa da tua agenda super ocupada… no final pede desculpa pela massa que ficou salgada demais;

7) Conseguir aguentar a febre duas horas e meia antes de poder tomar mais uma dose de paracetamol e, pelo meio sem te lembrares que o fizeste, manda mensagens no telemóvel a desmarcar compromissos do dia seguinte;

8) Acordar a delirar enrolado em cobertores e ganhar coragem para ir tomar os comprimidos… sempre com a idéia “já os tomei, ou estava a sonhar e nem me mexi da cama?”;

9) Ficar acordado a noite toda porque é impossível adormecer profundamente com a dor ao tentar engolir a saliva e porque a febre insiste em não ceder ao paracetamol, ibuprofeno, meloxican e diclofenac (não havia mais nada em casa);

10) Ouvir o relógio apitar de hora a hora, como os velhos quando já só dormem duas a três horas por noite;

11) Saír da cama de manhã e, em desespero, auto-administrar no rabo um diclofenac intramuscular fora de prazo;

Só passaram sete meses... certamente não me vai apodrecer o cú... e no caso de anafilaxia, basta espetar uma caneta na traqueia e chamar os bombeiros de Favaios

12) Conseguir resistir à reacção vagal que se instalou assim que a agulha passou a epiderme, sem vomitar e sem desmaiar, até conseguir chegar à cama e ficar deitado de patas para o ar à espera que os suores e a hipotensão sejam resolvidos pelo “organismo” (adoro esta linguagem popular!);  ---“palavra d’honra, Toscano!---

13) Tomar um duche, vestir roupinha lavada e enfiar uma lanterna na mala para mais tarde mostrar aos amigos a garganta que mete nojo aos cães (mas fá-lo com o orgulho de quem tem algo podre no corpo);

14) Saír de casa atrasado para almoçar com três amigas que não vês há anos e parar primeiro na farmácia para implorar por um anestésico local para a orofaringe… tudo com voz de “Cocas o Sapo” porque as amigdalas já te obstruem 80% da via aérea;

15) Comer uma açorda porque é a única coisa que consegues engolir;

16) Passar a tarde com um grande amigo e acabar por ir jantar com ele e outros grandes amigos, sem estares à espera que o teu dia fosse acabar assim;

17) Antes de ires para o jantar pede um paracetamol aos amigos;

18) Passar o serão a divertires-te e a matar saudades dos amigos sem ceder ao desespero da amígdala infecta;

19) Receber um inesperado convite para ir ao cinema assistir a uma ante-estreia e não poder aceitar porque foi o dia mais inesperado e ocupado das férias;

20) Submeteres-te a um teste de coragem e deixares que te espetem nove agulhas no corpo todo, na tua primeiríssima sessão de acunpunctura… e fazeres figura de panasca porque tens medo que te espetem agulhas da grossura dum cabelo;

Todo espetadinho! Nem o pescoço escapa...

21) Dizeres adeus aos amigos com promessas de se verem outra vez antes de ires embora (conversa típica de enfermeiro/emigrante) e deixar uma amiga em casa porque o marido foi fazer noite e ela ficou sem boleia;

22) Tentar adormecer quando o simples e involuntário acto de engolir saliva te mantém acordado… e esperar por um dia melhorzinho amanhã.

Vocês não imaginam o sofrimentoooooo! Estas agulhas eram potenciais pneumotoraxes!

Já agora deixo aqui a minha singela homenagem a um amigo querido que faleceu. Apresento-vos o Bruno Aleixo… um dos vídeos é notoriamente a falar de mim, “drógádo”.