Consegui umas fotos bem boas. Infelizmente ainda não sou amigalhaço de ninguém no laboratório fotográfico e tive de pagar por elas e não obtive os ficheiros. Assim o que fiz foi enfiar as fotos no scanner da enfermaria e já dá para o gasto. Aqui ficam as melhores fotos da noite!
Converti-me à tradição norte-americana. É suposto os espírito maus saírem à rua antes do Dia de Acção de Graças e do Natal, para que estes feriados sejam puros e desprovidos de maldade. Seguindo a tradição o Diabo saíu da toca ontem. O Inferno teve férias por uma noite… já o Conquest teve de lidar com Lúcifer. Portei-me bem e ninguém saíu magoado. E até me sinto mais puro para encarar o Natal nas Caraíbas!
Os últimos dias têm sido de uma intensa actividade social. Posso dizer que o Crew Talent Show foi uma grande porta que se abriu para mim. Sou agora um dos “populares” do Conquest. No Holiday o Eddie costumava dizer “ship life is just like high school”. Ou para os que não hablam inglês, “vida nos navios é tal e qual o liceu”. Claro que a noção de liceu dos americanos é um pouquinho diferente da nossa. Mas qualquer pessoa já viu filmes clássicos sobre a vida nas escolas secundárias norte-americanas e está familiarizado com as peculiaridades desse nicho.
Desde Porky’s a American Pie, até às também clássicas séries de TV como Parker Lewis ou Já Tocou, a vida aqui é muito semelhante. Há tantos grupinhos, os brutos (desportistas), os intelectuais, os importantes (onde se enquandram, por pressuposto, todos os italianos), os bonzões que só comem gajas e atacam tudo o que mexa e não tenha um par de testículos (onde, mais uma vez, se incluem os italianos), há as louras e há os populares. Esses são os gajos fixes que toda a gente conhece e de quem todos querem ser amigos.
Ultimamente fui enfiado nessa categoria. Ser enfermeiro a bordo dá-nos uma posição de destaque. Todos nos conhecem, trabalhamos com muitos departamentos diferentes e temos oportunidade de conhecer quem quisermos arranjando facilmente um pretexto para abordar alguém. Fora essa facilidade de “movimentação” social que obtemos nesta posição, tocar guitarra e cantar para um auditório “à pinha” (mais tarde deixo os vídeos para a malta) também levou a minha cara e o meu nome a outros cantos do navio. E ontem na festa de Halloween foi excelente. Não me senti sozinho em momento algum e curti que nem um doido. Agora só preciso que os dias tenham mais horas para poder estar em todo o lado.
Para além da azáfama social e dos “chocolate martinis” (que na verdade são vodka com licor de cacau enfiados dentro dum shaker e batido até estar perfeitamente delicioso) tenho desenvolvido o gostinho pelo ginásio. Não há nada melhor do que correr meia-horinha, exercitar o corpinho nas máquinas, passar pela bicicleta até estar realmente cansado e depois terminar a sessão no banho turco. E tudo grátis! É um luxo! Na mudança de hábitos também aboli os elevadores. Agora sempre que preciso ir a algum lado, é de escadas, que faz muito bem. Por exemplo, ginásio é no 11º andar. Já chego lá cansado, mas é um bom aquecimento. Onde estou agora a escrever é o 9º andar. E por aí fora. Sempre pelas escadas… hei-de reaver alguma da forma que tinha há quatro anos atrás!
Estou a escrever este post dum lugar novo. Descobri que na traseira do navio, enquanto ancorados em Montego Bay, há um sinal de internet que podemos “roubar”. O chato é que não consigo ligar o portátil a lado nenhum e ele não prima pela autonomia.
Não posso esticar-me ou acabo com a bateria e o post fica só para mim. Termino aqui. Deixei-vos no ínicio do post uma musiquinha que tenho ouvido no ginásio. Descobri que Jamiroquai e Linkin são uma combinação perfeita para o iPod e a lista de reprodução para “ginasticar”. Até à próxima!
Está na hora da actualização semanal do Bacalhau das Caraíbas. Tenho algumas idéias e uma ou outra foto. Mas confesso que está a faltar-me a inspiração para compôr um post decente. Tentarei na mesma, pois creio que será maior a desilusão dos (afinal de contas) sete leitores do blog se não fizer actualização alguma.
Esta semana não tem sido má de todo. Saí em Houston, saí anteontem em Montego Bay, ontem de novo em Grand Cayman e hoje em Cozumel. E no Domingo vou vadiar em Houston outra vez. Nada mau, não senhor, principalmente quando vejo que o cruzeiro seguinte me deixa de folga em Cayman e a trabalhar apenas às quatro da tarde em Cozumel. Sobrevivo bem quando trabalho em Montego Bay. Juntos, o nosso itinerário e a rotação do horário de quatro enfermeiros conseguem ser uma combinação muito recompensadora!
Uma boa novidade desta semana é que se diz por aqui, em tom de rumor, que Galveston está pronta para receber-nos de novo a 2 de Novembro. Continuarei no Texas mas desta vez no porto de Galveston, a tal ilha que foi devastada pelo Ike.
Nas notícias respeitantes ao meu círculo socio-profissional, tenho a anunciar que o Aris vai embora daqui a três semanas. A Chris e eu temos aproveitado para curtir as últimas semanas com ele. Tem sido muito fixe trabalhar com eles dois. Quebrar-se-á o trio. Segundo a minha experiência Carnivalesca, é quando estes grupinhos se separam que se cria espaço para conhecer outras pessoas e integrar novos grupos. É o tal “abanão social” que levamos quando alguém próximo vai embora. Aquele tal que faz com que nos aproximemos de outras pessoas. Partilhei com a Chris esta teoria que formulei ainda no Holiday e ela apoia-a. Quando o Dale saíu do Holiday o meu grupo de amigos mudou e foi quando me aproximei mais da Nikki e da Jaime. Mais tarde, juntamente com o Federico, acabaram por tornar-se os meus melhores amigos até ao final do contrato. E ainda hoje mantemos planos de estar juntos novamente. Sei à partida que a Jaime e o Fede estão juntos no Sensation e que vou revê-los no meu próximo navio, o Destiny, nos dias em que estamos todos ancorados em Nassau nas Bahamas. A Nikki está já em ensaios no Moulin Rouge em Paris e com férias planeadas para Agosto em minha casa. Esperemos então para ver no que vai dar este próximo “abanão social”. O Aris já disse que quer ver-me e à Chris em Atenas. Quem sabe não vá lá ver aquilo outra vez! Nem que seja trabalhando a bordo de um dos navios da Carnival na Europa.
Mas como ainda estamos juntos e o Aris só vai embora daqui a três semanas, concentremo-nos no que andamos a fazer por cá. Aproveitando que a passada terça-feira foi um dia de cão e que anteontem estavamos livres os três fomos para a praia em Montego Bay, Jamaica. Tirei umas fotos, bebemos uns copos e divertimo-nos à grande, como já vem sendo hábito. Tenho aprendido umas expressões feias em grego. Deixem-me dizer-vos que olhar um gajo nos olhos, apontar na sua direção com braços esticados, mãos abertas e palmas paralelas levando-as num movimento descendente até às virilhas, enquanto pronunciamos à boca cheia "testículos" (na versão menos correcta e brejeira da palavra), tem muito mais técnica do que podem imaginar! E não é pela pronúncia grega que é difícil, porque alguns de vocês já sabem que é com extrema facilidade que soamos a gregos. --- não é M’Anne, Fagulha & Cª?---
Muitos me questionam acerca das "gajas" a bordo. São inúmeros os comentários do tipo “paisagens bonitas mostras tu, mas de gajas não vejo nada”. Ora, os mais próximos sabem que as minhas atenções estão dirigidas para Portugal. Estou de olhos no produto nacional, mas que elas "andem" aqui, isso posso confirmar-vos sem hesitação! Confirmo que "andem" por aqui e que são MUITO boas! Se no Holiday era um fã incondicional da ex-Jugoslávia (apreciando de longe a Sérvia e Macedónia e conhecendo muito de perto a realidade croata), agora estou adepto da Polónia. Um grande exemplo... ou melhor, três grandes e BONS exmplos são o trio clássico. Três meninas polacas que tocam música clássica para os passageiros. Cada uma mais gira que a outra. Por onde passam deixam um rasto de hormonas masculinas em ebulição. São tão giras... é que dão mesmo gosto olhar! :) Não consigo parar de fazer piadas porcas quando estou com o Aris e a Chris e elas estão por perto. Tudo começou quando, há uma ou duas semanas, mandei para o ar que não me importava de ver como trabalham em trio… mas num contexto menos “clássico-musical”! ; )
Desde esse dia as piadas acerca do Trio Clássico abundam no nosso grupinho, principalmente depois duns martinis e/ou mudslides. Uma noite destas, quando regressava ao quarto, elas passaram e mandei uma boca obreira do mais alto nível. Obviamente foi uma piada apenas entre o Aris, a Chris e eu. Uma piada que faz sentido em inglês, onde o verbo "play" adquire diferentes significados, principalmente se utilizado na mesma frase com "Trio Clássico" e "o meu instrumento"! Dando continuidade a esta linha humorística, estavamos nós numa esplanada na praia em Montego Bay, eis que chega, em todo o seu esplendor, o Trio Clássico! Roupas para o chão, bikinis reduzidos e toca a espalhar óleo bronzeador umas nas outras. Mas há algum gajo que se coíba de fazer ou pensar em piadas badalhocas perante este cenário? A Chris diz que nunca pensou que pudessemos ser tão porcos! Fartei-me de rir com o que me saiu. Disse "I think they're a lot more interesting as a whole". E assim que terminei a frase percebi os dois sentidos que poderia ter! "Whole" significa "todo”. Mas quando falado soa quase igual a "hole", que significa "buraco". Pois bem, o Trio Clássico tem todo o interesse em ambos os sentidos! A Chris não acredita que eu consiga dizer coisas destas... e penso "'tadinha, vê-se mesmo que ainda não conhece o menino"! Terminei a conversa do Trio Clássico rematando "logo ao jantar levo um frasco de gel Aloé Vera para a mesa. Vou ter com elas e digo que as ajudo com o escaldão e que o gel vem com um aplicador... eu". O Aris fê-lo pior e acrescentou que vem com aplicador e introdutor, qual canivete suíço multi-funções. O nível não podia ter descido mais do que desceu, mas teve piada!
É giro ver a evolução do meu humor numa língua estrangeira. Há uns meses atrás, no meu almoço de despedida do Holiday, em Cozumel, terminámos a refeição e ficámos sozinhos à mesa quando todos foram embora. Era o grupinho do costume: Federico, Jaime, Nikki e eu. Não me lembro como, mas a conversa foi parar a genitálias femininas e, dispensando alguns nomes e outros pormenores, foram mencionadas senhoras labialmente avantajadas… tenho que escrever assim porque o meu irmão de onze anos lê o blog e há que manter isto minimamente aceitável e difícil de decifrar! Que entenda quem conseguir descer ao meu nível. Então ao falarmos das fêmeas labialmente avantajadas, e de como a gravidade e a perda de elasticidade da pele têm efeitos trágicos no envelhecimento do ser humano, saíu-me da boca para fora a piada mais porca que até então tinha feito em inglês. O cenário vinha no contexto da conversa e alguém dizia a uma dessas avantajadas senhoras “cuidado não tropece, tem um atacador desapertado” ao que ela responderia “ah muito obrigada, mas não é o atacador”…
… a Jaime e a Nikki disseram em côro “oooh Bruns, that’s so gross” e o Fede riu-se, como qualquer gajo faria. É muito mais divertido ser gajo, poder dizer estas barbaridades e rir-nos delas enquanto as “meninas” se fingem enojadas! Alguém discorda?
Mudando de assunto, o primeiro oficial aqui do Conquest pediu um favor à minha chefe. Pediu que um dos enfermeiros fosse dar uma pequena palestra no curso de sobrevivência no mar em caso de acidente. Queria uma pequena palestra sobre hipotermia, coisa para cerca de meia hora. Andei então a ajudá-la a reunir informação. Achámos que seria giro saber a temperatura do mar onde estamos e, com esse valor, determinar quanto tempo sobreviveriamos em caso de imersão. Nenhum de nós fazia idéia da temperatura da água no meio do Golfo do México. E foi então que me lembrei duma viagem de barco que fiz no secundário. Fomos num barco “disfarçado” de caravela fazer um cruzeiro pelo Rio Sado. Recordei-me de que tinham um termómetro nos instrumentos de navegação, dando-nos a temperatura da água em tempo real. Ora, se um barquinho pequenino no Rio Sado tinha isto, o Conquest deveria ter ainda melhor. Não fui de vergonhas! Liguei para a ponte de navegação e perguntei-lhes qual a temperatura da água. Para meu espanto a resposta foi, no típico sotaque italianíssimo, "neste momento é de 29 graus celsius". VINTE E NOVE GRAUS! Bonito... tempo de sobrevivência imerso em água a 29 graus: indeterminado! Quem diria que um gajo era capaz de sobreviver por tempo indeterminado nestas águas gélidas?! Por curiosidade fui ao sapo.pt ver a meteorologia. Em Lisboa as temperaturas máxima e mínima nesse dia eram de 24 e 19 graus respectivamente. C'um caneco, a água aqui é mais quente do que o ar em Portugal nesta altura do ano! O ar por cá também é um “bocadinho” mais quente do que em Portugal mas, mesmo atendendo à teoria da relatividade, esqueçam o conceito de “mergulho refrescante” se quiserem vir para estes lados. Já comi sopa mais fria que esta água!
Ontem estive em Grand Cayman e tinha duas coisas para fazer: comprar uns óculos de sol e ir ao meu novo bar favorito, o Pirate’s Den, e usar a internet para falar para Portugal. Objectivos cumpridos! Sozinho, qual “Kemosabe”, mandei-me para fora do navio assim que consegui vencer a preguiça. Tive um despertar no mínimo diferente. Acordei com o telefone e a Chris disse-me do outro lado: “Bruno, Security just called me and you have to come here for drug testing”. E assim foi a minha primeira vez. Acordou-me vinte minutos antes da hora a que era suposto testarem a minha urina para a presença de substâncias ilícitas. Alguma vez acordaram e alguém vos disse “acordaste agora e, num dia normal, és capaz de ficar na ronha três horas até te levantares e ires mandar uma mija, mas AGORA tens de aguentar vinte minutos sem mudar a água às azeitonas”? Chiça, até já estava a sentir-me mal! Só pensava em correr da cama para fora, levantar a tampa da sanita e mijar um galão de urina acumulada durante a noite (e sim, disse mesmo “galão”… estes gajos aqui nem sabem o que é um litro ou o sistema métrico!). Não estava aflito para “desaguar”, pelo menos até me dizerem que dava jeito conter o xixi para o teste. Realmente a psique é um dos maiores mistérios do Homem!
Lá fiz o teste e fiquei livre para ir para a rua. É parte da política da companhia testar aleatoriamente os tripulantes sem aviso prévio. Preparam a casa de banho tapando as torneiras e metendo corante azul na sanita para que não possa usar-se essa água e com ela diluir a amostra de urina no frasquinho. Foi a minha primeira vez. vamos ver quando calha o meu nome no sorteio outra vez…
Comprei uns óculos de sol Ray Ban muito parecidos com os que já tinha há mais de quatro anos. Na altura comprei-os no Cascais Shopping e custaram-me um balúrdio, para cima de 30 contos, se bem me recordo. Estes são iguais na forma e design, mudando o tipo e cor de lente. Infelizmente não são espelhados, o que me impede de olhar despreocupadamente para o decote da gaja boa que estiver a falar comigo. Agora preciso de um esforçozinho extra para lembrar-me que os meus olhos já não estão escondidos pela cortina espelhada das velhas lentes! Ainda me habilito a levar uma joelhada nos “sapaparimo” (bem vos disse que andava a aprender grego!), uma murraça no alto da pinha - como diria a minha avó Albertina – ou pior, uma chapada nos Ray Ban novos e a ter de largar de novo os meus dólares para ir buscar um novo par… de óculos, claro!
Fazer compras aqui é um sonho! Os óculos custavam cento e cinquenta dólares americanos, o que é mais barato do que seria o mesmo valor em dólares de Cayman. E são livres de impostos, ou não fosse Grand Cayman um dos maiores paraísos fiscais da actualidade. Ainda levei um desconto de dez porcento, cortesia para tripulante da Carnival. A senhora vendedora veio dar-me a habitual conversa da treta “ah e tal, estas lentes são muito melhores que as tuas, porque são polarizadas e o catano”. E pensei “pois claro, esfrega-me palavras caras na tromba que eu gosto”. Mas fiquei fascinado com a demonstração: apontou-me para um quadro branco com umas letras ao centro. Depois mandou-me olhar para o mesmo quadro com os óculos na cara. Surpresa! O quadro tem uma imagem escondida que só é revelada quando se olha através de lentes polarizadas! Até tirei uma foto ao quadro usando as lentes dos óculos como filtro! Mesmo fixe!
(vejam as fotos e deixem o cursor sobre elas para lerem a legenda)
Com tanta tecnologia na mão e no bolso e ainda fico fascinado com estas ilusões ópticas! Daqui para a frente não quero nada que não seja “polarizado”!
E para terminar, deixo-vos com a preparação para a festa de Halloween no final do mês. Será o último cruzeiro do Aris e, como já devem ter reparado nas fotos das máscaras mais acima, estamos a preparar-nos para festejar a rigor. No passado Domingo, em Houston, fui com a Chris fazer as compras para a festa. Para o Aris comprámos um fato de Deus Romano. Para ela um vestido de Deusa Egípcia. Para mim não podia faltar o traje de Demónio! É a minha oportunidade de vestir a pele de diabo e exibir publicamente o meu mais marcado traço de personalidade! Na noite de Halloween não haverá lugar para a carinha de anjinho do costume! Invocarei o que de mais maldoso há em mim e serei o maior rival dos Tenacious D! ---esta última é para a Irmandade e para o Grégos! Vocês sabem do que falo!---
Antes de despedir-me “amando”-vos com uma pergunta: vou com ou sem máscara? Não consigo decidir-me!! O Aris diz que devo ir sem máscara porque me dá um ar mais sinistro. Também estou inclinado a ir sem ela, embora me custe deixá-la de parte. Estou indeciso! Vamos a votos? Podem votar por SMS ou deixando comentários aqui no blog.
Conto convosco! Toca a votar!
Muitos já me ouviram falar sobre como a adaptação a uma nova língua passa por mais do que apenas traduzir palavras e frases. Outros já aqui leram acerca desse meu rito de passagem. Trago de novo o assunto para a mesa porque esta semana tem sido excepcional em todos os aspectos. Tenho trabalhado que nem um cão, até nos dias de folga a mandar o cú para fora da cama às seis e meia da manhã. Cortesia do rastreio de hipertensão arterial e diabetes aos tripulantes com mais de trinta e cinco anos de idade. Foi um pesadelo que tive no Holiday e que agora se repete aqui… com a pequena diferença de termos, no geral, quase quinhentos tripulantes a mais do que o Holiday.
No entanto, recebemos ajuda de Miami. Mandaram-nos um enfermeiro para dar uma mãozinha e gerir papeladas. O Jo é americano e é um bacano. Mais do que isso, é completamente esgroviado! Para perceberem até que ponto é chanfrado, ontem estavamos na fila para o “táxi” entre o porto de Grand Cayman e o Conquest e aproveitei para que me tirasse uma foto. É de aproveitar, já que tiro sempre “auto-retratos” e as fotos ficam sempre a parecer-se umas com as outras. Só muda o braço que segura a câmara, inverte-se o ângulo mas a pose é a mesma! Estou então a posar, com as águas mais espectulares que já vi e o Conquest como fundo, e o Jo de câmara na mão e ar compenetrado. Aproxima-se um passageiro cheio de boa vontade e pergunta “do you want me to take a picture of you together?”. Imediatamente o Jo responde “naaaa, deixe estar, nós já nem namoramos um com o outro”. Obviamente fiquei a rir-me que nem um perdido, como podem ver na foto. O passageiro engoliu em seco e bazou com cara de quem tinha ouvido a maior das heresias! O Jo manteve-se com um ar sério e impassível como se fosse uma cena normalíssima. Foi lindo! Nem mudou de expressão ou tom de voz, foi perfeito! Este gajo é MESMO chanfrado!
Sendo a minha terceira semana começo também a firmar amizades e a criar laços mais fortes com algumas pessoas. Uma delas é a minha coleguinha Chris, sul africana (mas descendente de família indiana). Acho que tem vinte e sete anos, não me lembro ao certo. Muito gira, muito boa rapariga mas, aparentemente, muito religiosa e angelicalmente hindu. Tenho travado conhecimento com outra malta, de onde destaco a Laura, uma inglesa, animadora social que começou cá no mesmo dia que eu. Vinte e dois anos e muito simpática… primeiro contrato, coitadinha! Juntemos-lhe o Aris, o médico grego fanático por mergulho, a Vanessa, enfermeira australiana e esgroviada que chegou na semana a seguir a mim, e está reunida a pandilha.
Com este contexto “familiar” partilho então convosco que me diverti à grande esta semana! Na terça-feira tive noite de Karaoke. Cantei que nem um maluco e já metade do navio me conhece, apesar de não conhecer nem uma fracção deles. Sabem o meu nome, chamam-me rei do karaoke e coisas assim. Levei a audiência ao rubro com êxitos como Unwell dos Matchbox 20, I Want It that Way dos Backstreet Boys, We’ve Got Tonight (dueto dum barbudo com a Sheena Easton) e outros que agora não me recordo… cortesia dos apple martinis.
Quando cantei Backstreet Boys inscrevi o Jo e o Aris sem saberem. Mas faltou-lhes coragem e deixaram-me pendurado. Valeu-me a Laura que se juntou a mim no palco e o mestre de cerimónias do karaoke que entrou nos coros. Foi uma grande noite que terminou às quatro e meia da manhã porque achei melhor dormir… afinal de contas, daí a poucas horas tinha de estar fresquinho para receber a bordo a Lara, Paula e respectivos “hómes”.
Depois foi o belo dia com os portugueses a bordo, como descrevi à pressa no post anterior (nem mencionei a tripulante giiiiiiira e muito jeitosa que estava a dançar no ginásio e que deixou o Jorge e Raúl a babar e as esposas as bufar!).
Ontem em Grand Cayman passeei a pé, sozinho, de telemóvel N80 na mão à procura de sinal wireless grátis. Está na hora de encontrar sítios fixes, e desertos, onde possa usar a net para ligar para Portugal e falar com quem preciso, bem como actualizar o blog. Preciso de ligações rápidas e isso só consigo ter em sítios livres de tripulantes. Descobri então dois bares. O segundo, The Pirate´s Den, é muito fixe! Estou lá batido sempre que estiver em Cayman. Entre mergulhos e passeios, vou beber um copo e mato o vício da net.
Tenho adormecido esta semana a ver os filmes da série Harry Potter. Estou há uns cinco dias a tentar ver o Cálice de Fogo, mas adormeço sempre! Gosto mesmo daquele ambiente de magia e feitiçaria… tem pinta! Gostava de ser um feiticeiro também!
A bordo as relações continuam a evoluir, e vou sentindo um bem-estar crescente. A Laura é a “social host on duty”. Significa que esta semana não sai do navio. Qualquer coisa relacionada com o departamento dela é da sua única responsabilidade. Encontrei-a na messe à hora do jantar e pedi-lhe o número do pager, para combinar qualquer coisa. Nem cinco minutos depois já eu estava a bipá-la de um dos telefones da messe. Vi-a levantar-se a meio da refeição, ir para o telefone mais próximo e ligar-me. Inventei uma qualquer história mirabolante que exigia a presença dela nos bastidores do auditório por causa duma avaria com a máquina do bingo. Fui logo caçado porque não havia bingo a essa hora! Fartou-se de chamar-me nomes quando percebeu que estava do outro lado da sala a falar ao telefone com ela. : )
Depois regressei ao quarto. Estava cansado mas ia lançado com vontade de aprender umas músicas novas na guitarra. Sentei-me a tocar e ligaram-me da enfermaria. A Chris ligou-me para ir ter com ela. Diz que o Aris precisava de falar comigo. Quando cheguei percebi que era treta. Ele ainda tinha trabalho por fazer e queria a nossa companhia. Acabámos por lá ficar umas duas horas na galhofa. Foi risota até doer a barriga! Nesse dia tinha tido um doente com queixas de dor e edema testicular. Ao que parece estava a tomar cialis, um concorrente do viagra (viagra que viu proíbida a sua comercialização nos EUA há uma semana!). O Aris mandou-me um livro para a mão e pediu-me para perceber se o cialis provocava algum tipo de edemas. Obviamente respondi que um tipo de edema provocava de certeza! Mais risota! Iniciei-me então na leitura da informação clínica do cialis (medicamento que até agora só conhecia de nome da minha caixa de “spam” mail, onde recebo milhentas ofertas diárias para engrandecer e embelezar a minha já espectacular ferramenta de homenzarrão).
No meio de quilos de informação lia-se:
“(…) drug prolongs smooth muscle relaxation and promotes blood flow into the corpus cavernosum.”
Ora, após uma semana de Harry Potter e feitiços fantásticos com nomes mirabolantes a minha cabeça não podia ir para mais lado nenhum. Só me imaginei de varinha mágica na mão (e não falo daquelas para passar os vegetais na sopa) a mandar um destruidor feitiço a plenos pulmões: “CORPUS CARVENOSUM”! E mais risota!
Continuando na minha busca por algum efeito secundário de edema, para além daquele provocado pelo maior fluxo sanguíneo nos corpos cavernosos, deparei-me com estes efeitos secundários:
- dor lombar
- mialgias
- dores nos membros
Ora bem, isto das dores musculares, dor lombar e dor nos membros até se entende. A dor lombar se alguma amiga aparecer depois de ter-se tomado o cialis. Se for exigente podemos juntar-lhe as dores musculares. Se ela se baldar à última da hora ficamo-nos pelas dores nos membros, e pode ser o braço esquerdo e o direito… porque com cialis e sem companhia algum deles há-de cansar-se rapidamente! Foi o descalabro quando espetei o rabo, apoiei uma mão na anca e outra na mesa e fiz um movimento de vaivem com a anca e disse “dor nas costas até percebo porquê”. Já nos doía a barriga de tanto rir! Assim continuámos enquanto lia tão útil informação. Continuando até às contra-indicações descobrimos que não pode ser administrado em pessoas com predisposição para priapismo (recordando-me de imediato o trabalho de casa das praxes quando entrei no curso: escrever uma composição com o tema “o meu priapismo díario), dando-se o exemplo de pessoas com anemia falciforme. Comentei “não sabia que a anemia falciforme provocava priapismo… nem tudo podia ser mau”. E pronto… assim mudei irreversivelmente a imagem que aqueles dois tinham de mim. De crominho careca com pinta de cientista passei a ser mais um desmiolado com parafusos a menos.
É bom conseguir ser eu mesmo, mesmo estando numa realidade tão diferente onde até o pensamento é violentamente forçado a processar-se numa língua que não a nossa.
Conviver com as porcarias que me passam constantemente pela cabeça não é tarefa fácil. Na maior parte das vezes sou um triste incompreendido, com um humor desajustado. E muito consigo eu filtrar! Não imaginam as vezes que me rio sozinho com as barbaridades que penso e não chego a partilhar com mais ninguém. Recordo uma tarde de praia no Algarve. Calorzinho agradável, uma excelente companhia (a melhor! ---PARABÉNS, Esponjinha!!!---), areia perfeitamente moldada às saliências do corpinho (o que é difícil de conseguir e só se chega lá ao fim de uma hora a mandar murros em pontos estratégicos da toalha para encaixar protuberâncias corporais na cavidade que daí resulta), pessoal a jogar à bola a uma distância perigosamente curta e o senhor das bolas de berlim a gritar “booooola, olha a bola”. Dois segundos depois desatei a rir-me compulsivamente. Só imaginei alguém levar com uma das bolas de vólei ou futebol na tromba e o gajo dos bolos continuar a andar, sem mudar de rumo ou tom de voz, e dizer “eu avisei”.
Estou feliz! Foi uma semana de revelações a muitos níveis… pessoais, profissionais e afectivos! Se encontrarem um gajo com um sorriso parvo de orelha a orelha, dêem-lhe um aperto de mão e um pontapé no cú: sou eu!
Foi um dia especial! A Lara, a Paula e o seus respectivos estão de férias na Jamaica. Eu estava na Jamaica. Bastou apenas mexer os cordelinhos e conseguir as autorizações para serem convidados por um dia. Não foi difícil, foi só pedir. E assim se passou um dia especial. Um dia com amigos num universo tão diferente do habitual. Partilhar com eles um pouco da minha nova vida…
Provaram um pouco de tudo. Até almoçaram por cá, como verdadeiros passageiros desta cidade flutuante. Foi uma grande “Conquista” para todos nós!
Quem estiver em férias perto de um dos meus portos, é só mandar um mail e logo vejo o que consigo arranjar… ; )
O tempo está escasso e preciso correr de volta ao navio. Obrigado por terem vindo: Lara, Jorge, Paula e Raúl. Curti mesmo ter-vos por cá!
IMAGENS NUNCA ANTES VISTAS!!! Consegui imagens inéditas e exclusivas para o vasto auditório de quatro pessoas que segue o blog! No final deste post vão finalmente encontrar imagens dum preto da Jamaica a lavar-se. Não percam, é um espectáculo inesquecível… e encontrá-lo-ão quando terminarem de ler isto. Os mais ansiosos podem saltar a parte chata e vê-lo agora!
Desde o último post tem sido uma semana preenchida: muitos treinos, adaptação a um novo navio, conhecer pessoas novas, visitar novos portos e tantas novas outras coisas! Tudo novo! Grand Cayman foi fantástico! Fui mergulhar com o médico grego, o Aris, e fiquei pasmado com o lugar. Ninguém à vista, águas quentes, cristalinas, movimento e vida por onde quer que se olhe.
Cozumel foi chato porque choveu imenso e fiquei “preso”… de portátil às costas não convém andar à chuva, e aqui quando chove é tão brutal que nem consegue ver-se para o outro lado da estrada. Ainda assim consegui actualizar o blog e falar com quem queria… fixe!
Houston foi de loucos. Devido ao furacão o navio esteve três semanas sem receber provisões para a enfermaria. Se no Holiday receber seis caixas de “mantimentos” me dava um dia mau… no passado Domingo recebi DEZASSETE caixas de medicação e consumíveis para o centro médico!! Caíu-me tudo ao chão! Para completar o esquema esqueci-me da minha entrevista com os serviços de emigração. Fui dos últimos mas não houve “espiga”. Recebemos a nova enfermeira, uma australiana de partir o côco a rir! Completamente esgroviada, mesmo porreira! E entretanto tive uma chamadinha de emergência que terminou comigo a desembarcar um passageiro ainda antes de partirmos rumo à Jamaica. (onde consegui capturar as tais imagens inéditas dum preto da Jamaica a lavar-se… preparem-se!!)
Ontem estive em Montego Bay, Jamaica. Choveu como tudo, mas diverti-me. Fui atacado por uma horrível criatura marinha e, ainda assim, foi um dia à maneira.
Hoje chove em Grand Cayman… é bem feito! Estou aqui com os cornichos enfiados a trabalhar e não vou poder ir à rua! AHAHAHAH! Se eu não vou lá os outros também não vão! MUAAHAHAH!
Amanhã é dia de Cozumel e estou DE FOLGA!!! Na semana passada não consegui ir visitar o Chad e beber a minha margarita do costume, mas de amanhã não passa. Folga é folga! Mesmo que chova, estou lá batido!
Entretanto tenho mantido a mente ocupada com a guitarra, com o Son Goku e amigos na minha fiel Playstation 2, a conhecer mais gente e a tentar fazer amigos. Não tenho gasto muitas energias a escrever aqui, tenho investido mais nas fotos e nos vídeos. Terei eu descoberto um rumo novo para o blog? Uma espécie de video podcast com algum texto à mistura? Ou somente uma lufada de ar fresco? Talvez um pouco de cada, mas divirto-me e isso é que interessa! (E esperem para ver o preto da Jamaica a tomar banho no final do post!)
Ontem estive com o Matt, guitarrista que fez quase todo o contrato anterior comigo no Holiday e que está aqui desde o final do mês passado. Fomos ver o novo espectáculo de dança e ilusionismo. Grande estreia! Grande apresentação! Grande espectáculo! Entretanto tenho travado conhecimento com algumas das bailarinas e animadores sociais. De toda a tripulação são aqueles que têm, na sua grande maioria, o inglês como primeira língua. E isso é super importante. E explico porquê. No Holiday tentei aproximar-me de pessoal da Sérvia. Tudo bem… até tive conversas interessantes com a Sandra, a giríssima e simpática coordenadora de grupos na altura. Gira, engraçada, fofa e outras dessas qualidades. As conversas fluíam e mantinham altos níveis de interesse… até entretanto chegarem as amigas e amigos sérvios, croatas, bósnios, macedónios e outros da ex-Jugoslávia. Quando se juntavam desatavam a falar na língua deles e eu era um E.T. lá no meio. Tolerava-se por cinco minutos e depois lá ia eu para juntos dos ingleses, americanos, australianos e canadianos. É simples: eles falam uma língua que eu compreendo e na qual consigo exprimir-me. Não só consigo manter uma conversa como sou já capaz, após uns largos meses a viver por cá, de exprimir o que sinto, exprimir o que penso, exprimir o meu humor… ser realmente “eu”, o Pascoal que tem sempre uma macacada na ponta da língua e que fala sempre demais, mesmo quando deveria ficar de bico calado! Daí o meu interesse em relacionar-me com o departamento de entertenimento: dançarinas, animadores, músicos e outros tais. São quase todos americanos, ingleses, canadianos e australianos. Todos falam inglês, estejam sozinhos, em grupo,
bebados, com sono, chateados, eufóricos ou de caganeira. Todos dizem “aaah, tu queres é bailarinas, espertalhão… vai mas é trabalhar, ó”! Na realidade é no meio deles que consigo ser eu mesmo e sentir-me à vontade.
Já não tenho nada para vós hoje, resta-me apenas o vídeo inédito do preto da Jamaica a tomar banho. Tenho andado ocupado, física e mentalmente. Hoje (5ª feira) estou particularmente cansado. Dormi pouco e estava ansioso com uma coisa que preparei para esta manhã… agora é hora da sesta! Foi uma noite curta e um dia longo. Daqui a poucas horas fico de chamada e não quero estar rabugento e com sono.
Para terminar, e como prometido, deixo-vos as imagens inéditas dum preto jamaicano a cuidar da sua higiene. Beijinhos e abraços!
